sexta-feira, 11 de junho de 2010

E no meio de tanta gente, escolhi você

Eu sei, mudei a letra da música. Mas foi de propósito.
Hoje eu resolvi falar um pouco de mim. Coisa que não vai ser rara por aqui de agora em diante.
"Daqui pra frente tudo vai ser diferente" (na voz do Flausino, ok? Roberto Carlos é "so last life").
De hoje em diante, eu vou contar, de vez em quando, da minha aventura na vida. A dois. E agora a três (ou mais, quem sabe?).

Uma tarde, lá no começo do namoro, depois de muito amor e carinho (muito bem prevenido, diga-se de passagem), o Amor olhou pra mim e falou, com a mão sobre minha barriga: Sabe? Não é o que eu quero pra gente, mas... se eu tivesse um filho com você AGORA, eu seria o homem mais feliz do mundo.
Me deu medo. De verdade. Eu não tinha nem entrado na faculdade, nem tinha um emprego legal, ele estudando, morando em São Paulo, trabalhando muito. Não era o momento. A gente nunca poderia dividir as trocas de fralda ou as horas em claro por causa de uma cólica. Ia acabar com o namoro recente, e talvez atrasar diversos planos. Mas hoje eu teria um cotoco de cinco, seis anos, correndo e gritando: mãe, liga o Playstation pra eu ganhar de você no Guitar Hero do Aerosmith!
Ah, o Aerosmith... eu não teria visto meu Steven duas vezes, o Ozzy, AC/DC, Metallica.
Mas teria amamentado, teria ido à escolinha e visto seu sorriso se misturar a outros tantos no meio da brincadeira. Teria recebido corações de papel no dia das mães, ido ao parque no domingo, ensinado a pular corda ou andar de bicicleta.
Mas não teria feito a faculdade de jornalismo, e hoje trabalharia mais do que já trabalho. Não teria as tardes livres para orientar no dever de casa ou curar um joelho ralado.
E nessas divagações do que seria ou não seria caso aquele dia eu tivesse engravidado e feito meu amado o homem "mais feliz do mundo", eu chego nos dias atuais.
A gente pensa, se prepara, compra apartamento na planta (em São Paulo), resolve que quer viver junto, deixa o apartamento construindo e compra uma casa na cidade da praia.
Monta a casa e adia certos móveis e eletrodomésticos que julga menos importantes para o funcionamento de um lar. Aí um dia, um vira pro outro, de comum consenso e pensamento, e resolve: vamos ter um bebê. E decidimos que engravidaríamos em maio. Se não fosse em maio, que fosse depois disso. Assim o bebê nasceria no próximo ano, quando acaba a pós do agora marido.
Em 4 de fevereiro minha cartela de pílula está na última bolinha. Olho para ele e digo: é a última. Amanhã começa uma nova vida.
Na tarde do mesmo dia, depois do trabalho, sem nem almoçar corro para o hospital. Minha amiga entra na materdidade para um parto cesárea, quando dará à luz Arthur, meu afilhado. Ele nasce forte, grande, lindo. No dia seguinte, posso conhecê-lo e segurá-lo em minhas mãos. Quando a mãe se afasta, ele resmunga no berço. Na qualidade de madrinha, me sinto na obrigação de acalentar o pequenho Thutu. Nos meus braços, com minha voz baixinha no ouvido, ele se acalma. Minha mãe falou que foi o amor que coloquei nas palavras que o tranquilizou. Sem mais resmungos, ele dormiu no meu colo.
Naquele dia, vendo minhas habilidades recém adquiridas em ninar um pequeno tão pequeno, vejo como é grande a responsabilidade daquela vida em minhas mãos. Um corpo que não tem imunidade, que não suportaria uma queda ou um vírus, ali no meu cuidado.
A realidade de ser mãe se aproximava. Nada de divagações, sonhos acordada de como teria sido. O dia em que as fraldas seriam na minha casa e o choro me acordaria estava mais próximo do que nunca.
Saí do hospital cansada de um dia corrido, mas com energia para correr atrás. Fui buscar o diploma que me esperava há quase um ano na secretaria da Universidade.
Aquele mês passou, e junto com ele foi-se o sonho de engravidar rápido. Não sei porque essa ideia de engravidar logo em fevereiro. Sempre quis passar um Natal com a maior barriga do mundo. Um aniversário meu, talvez. Mas o Natal era primordial.
Março veio, com ele meu aniversário, e de novo se foram os espermas gastos.
Em abril, um sinal. Minha menstruação desceu numa sexta, e no sábado nem sinal dela. Me assustei. Domingo à noite voltou ao normal, mas com um fluxo muito acima do que tinha acontecido antes. A tristeza por mais uma vez não ter conseguido deu lugar a um pensamento de esperança: "vamos engravidar em maio, vai ser o presente de aniversário perfeito para ele".
Maio veio. Dia 10, a aula de pilates aqueceu meus músculos e abriu a pélvis. Eu entrava no período fértil, e o clima de romance do aniversário nos deu uma noite incrível.
No dia seguinte, olhei meu ventre e pensei: Será?
Dali em diante a certeza me perseguia, e quando eu via uma barriga grávida na rua, me dava vontade de rir e chorar.
A TPM começou, e então eu fiquei emotiva. Os seios incharam, algumas espinhas apareceram onde eu não as tinha visto mais desde a adolescência, retensão de líquidos, e aquela oscilação terrível de humor. Começaram as azias, fortes, coisa que não acontecia mais há muito tempo. Estranhei os sinais, e tive ainda mais esperança.
Dia 26, que era o dia D, nada. Dia 27 e 28 também. Dia 29, show do Aerosmith, e eu pensando: talvez a última vez que eu vá ver o Steven de perto. Medo de acontecer algum acidente por aqui, mas muita vontade de fazer xixi. E sede. O show transcorreu perfeitamente, e nenhum sinal. Viemos para casa e eu com o pensamento na minha barriga. Domingo, falei para ele: amor, acho que foi dessa vez que encomendamos nosso herdeiro. Ele pediu que eu esperasse, mas a ansiedade morava em mim.
Segunda liguei pra minha médica e pedi a guia para o Beta HCG. Fui ao laboratório em que minha amiga trabalha, coletei sangue e esperei o resultado em casa, em frente ao computador. Quando ele chegou em casa, dei o resultado: inconclusivo. 41,48 mUI/L, muito próximo dos 50 para reagente, muito distante dos abaixo de 10 para não reagente. Uma pntinha de esperança pairava no ar.
Vendo que eu não ficaria bem em casa, me levou ao pilates. No meio da aula, refluxo e tontura. Ele me buscou e eu chorei no carro, deitada em seu colo. E se eu realmente estivesse grávida, mas não tivesse um bebê saudável dentro de mim? E se eu fosse perder aquele sonho assim, por causa de nada?
A segunda-feira acabou em um pote de sopa.
A terça-feira começou com ansiedade e a triste notícia às amigas mais próximas do tema. Quarta-feira, muito enjoo, muito sono, fiquei em casa. Fiz o teste da tirinha na urina que peguei no posto de saúde. Nenhum dos dois funcionou. O exame de segunda mandava repetir no sábado, e assim foi. Asiedade mil até lá e chegou o dia. 20 minutos antes da hora, saiu o resultado.
Reagente em mais de 399 mUI/L. Gravidíssima.
Chorei, sorri, pensei. Como vamos contar pra família?
Contei pras amigas ansiosas, que pularam e gritaram.
Fomos a um aniversário e contamos a novidade aos amigos que estavam lá, que nos deram os parabéns e desejaram tudo de bom para nós três (ou quatro? oO).
Domingo foi o dia de contar pra família, informar os amigos que ainda não sabiam, e mais comemorações.
Hoje eu estou aqui. Uma semana depois do exame positivo, as emoções aumentaram. Os enjoos passaram por um sobe-desce desenfreado. E as mamas estão cada dia maiores.
E agora eu divago sobre o dia em que a barriga crescer, quando ela (a criança) ou ele (o nenê) vai estar entre nós, quando vou poder ensinar a andar de bicicleta, cobrar o dever de casa bem feito, pedir para esperar o jantar para comer o doce.
E penso em como eu não poderia ter escolhido melhor um pai para os filhos que ainda terei. Ele chega em casa e pergunta se eu já sinto alguma coisa, se estou melhor (mesmo que não tenha tido nada), olha se a barriga está crescendo. Entro na sétima semana contando os dias para a ultrassonografia, quando teremos certeza das minhas contas, e mais certeza ainda de que esse foi o presente de aniversário perfeito para ele. E o melhor presente que Deus poderia me dar.
Um bebê.

E para ilustrar o milagre da vida, o milagre do dia é um arco-íris, muito comum nessa época em que a chuva cai ao mesmo tempo que o sol brilha.
Além do arco-íris há um lugar onde eu posso todos os meus sonhos realizar. E um pote de ouro te espera lá, do outro lado.

Um comentário:

Jana Marson disse...

PQP
TÔ toda arrepiada, e embora esteja um frio do caramba, é um arrepio de emoção!

Parabéns pelo bebê!
Muita saúd e dissernimento...

Beijos